quinta-feira, 27 de maio de 2010

Mestres da Cultura Popular

O PODER DA SARACURA


Em Brasília ontem para cobrir a entrega da Ordem do Mérito Cultural, no Palácio do Planalto, conheci dois artistas populares extraordinários.
Primeiro, Dona Teté Cacuriá, que é como chamam em São Luís do Maranhão Almerice da Silva Santos, de 80 anos.
Ela toca a caixa e faz dança de roda nas ruas da capital maranhense há 30 anos. Carrega no nome o gênero que inventou, o Cacuriá, baseada na arte que lhe ensinou o mestre Lauro quando era ainda mocinha.
Reza ladainhas, dança tambor-de-crioula e tira reza em procissão. Acompanhada de uma cantora, ela tomou o palco do auditório do Palácio e cantou, e tem um jeito engraçado de definir sua arte:
"É uma dança religiosa, mas no final se torna 'rebuculosa', porque o pessoal rebola e requebra. Eu também. É contagiante. Até hoje, se bater, eu mexo".
Incrível: apesar do discurso egocêntrico de 51 minutos de Amir Haddad, foi Dona Teté quem fez o discurso mais político da jornada, que empunhou como se fosse uma embolada:
"Eu vou me despedindo/Como faz a saracura/Não esqueçam do porco-espinho/Não se esqueçam da nossa cultura".


Depois de Dona Teté, uma figura se agigantou no palco das premiações. Era o fantástico Rei do Carimbó do Pará, Mestre Verequete (codinome de Augusto Gomes Rodrigues). Aos 90 anos, ele chegou de cadeira-de-rodas, cabeça pendendo para baixo, e só conseguiu ficar de pé depois de confabular com o anfitrião, o presidente Lula. O pernambucano ergueu o paraense, que encarou altivo a platéia de 500 pessoas. Aí, ele foi além: pediu de novo algo ao baixinho ali do lado, o presidente Lula, e o pedido era que arrumasse um microfone para ele que ele queria cantar. Lula achou um microfone. Ele cantou, a platéia fez o acompanhamento com a batida do carimbó. Ele emendou outra canção na primeira, e não parecia com jeito de que ia parar o show.
Eis aqui Lula ajudando o homem a roubar o show:

Um comentário:

  1. Realmente Dona Teté e o Mestre Verequete (codinome de Augusto Gomes Rodrigues)do Pará representam autenticamente os nossos MESTRES DA CULTURA POPULAR do Brasil!
    E este blog está de parabéns por essa forma de difundir e expandir o nome dessas duas figuras que muito bem nos representam Brasil á fora, em especial Dona Teté.

    att,
    Rodrigo Fernandes

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